Aproximadamente 10% dos traumatismos abdominais apresentam envolvimento renal. O traumatismo renal pode ocorrer através de três mecanismos: o trauma contuso, o trauma penetrante e a desaceleração em alta velocidade. Entre 80% a 90 % das lesões renais são resultantes de traumatismo contuso.
Atualmente acidentes automobilísticos e quedas são responsáveis pela maioria dos traumas renais. Entretanto, os traumas penetrantes estão mais associados a lesões renais graves, e requem maior número de intervenções cirúrgicas e nefrectomia.
Devido às diferenças anatômicas entre adultos e crianças, elas possuem maior risco de trauma renal. Crianças são mais expostas e vulneráveis a lesões renais devido a algumas características anatômicas, como rins maiores em relação ao tamanho do corpo infantil, rins posicionados mais abaixo no abdômen e com menor proteção devido a menor gordura peri-renal, musculatura abdominal mais fraca, e uma caixa torácica menos calcificada. Além disso, o menor desenvolvimento da cápsula renal e da fáscia de Gerota em relação aos adultos, promove um potencial maior de laceração parenquimal, sangramento não confinado e extravasamento urinário.
Divergente dos adultos, a hematúria em crianças não é um sinal confiável na determinação da necessidade de rastrear lesões renais. Geralmente não há evidência de hematúria macroscópica ou microscópica em até 70% das crianças com lesão renal de grau 2 ou superior. Como os sinais clínicos podem não ser uma indicação confiável da gravidade da lesão visceral, um protocolo de imagem por ultrassonografia e tomografia computadorizada com contraste deve ser seguido para evitar atraso no diagnóstico de lesão renal.
As lesões renais são classificadas em uma escala de I a V. As lesões grau I a grau III tem como tratamento de sucesso a forma conservadora, enquanto as lesões grau V são submetidas à exploração e reparo cirúrgico.
Em casos de extravasamento urinário significativo em traumatismo contuso, podem ser necessárias intervenções como drenagem percutânea, aspiração guiada e implante de stent interno. A maioria das explorações cirúrgicas de acordo com o manejo contemporâneo de trauma renal de alto grau resultou em nefrectomia. Quando possível, o manejo conservador em casos semelhantes resultaria em aumento das taxas de resgate e subsequente preservação renal.