A disfuncão miccional infantil ocorre devido a uma incoordenacão vésico-esfincteriana, que causa alterações urodinâmicas importantes e compromete o esvaziamento e o armazenamento vesical. Ao invés do total relaxamento, ocorre o aumento da atividade da musculatura perineal e do esfíncter uretral externo durante o período de esvaziamento vesical, que resulta em um menor fluxo de urina, pressões de micção elevadas e resíduo de urina importante. Os principais sintomas são: frequência urinária baixa, urgência, urge-incontinência, infecções de urina de repetição e alterações intestinais, entre elas a constipação. Em casos graves, se não ocorrer um tratamento adequado o quadro pode evoluir para uma falência detrussora e insuficiência renal crônica.
A avaliação das crianças com suspeita de disfunção miccional deve ser feita através de uma detalhada história médica e obstétrica, e observar se houve anteriormente oligohidramnio, hidronefrose antenatal, anoxia perinatal. A avaliação também engloba o diário miccional de pelo menos três dias, que informa sobre frequência de micção, volume urinado, consumo de líquidos e perdas de urina diurna e noturna. No exame físico, as regiões lombo-sacra, perianal e perineal devem ser cuidadosamente examinadas. Para descartar problemas neurológicos deve ser feito um exame neurológico na criança.
Exames complementares
Exame qualitativo de urina
Este exame pode detectar a presença de infecção, diabetes ou lesão renal.
Ultrassonografia
Avalia o volume vesical pré e pós-miccional, espessura da parede vesical, e a presença de alterações pielo-ureterais, presença de cálculos renais e fezes impactadas na ampola retal.
Urofluxometria e Urodinâmica
Estudo avalia a capacidade vesical, sensibilidade, complacência e presença de contrações involuntárias do detrusor e pode determinar a dissinergia vésico esfincteriana. A fluxometria mede o fluxo urinário em crianças que já adquiriram o controle esfincteriano. A urofluxometria com eletromiografia é essencial para a definição diagnóstica da disfunção miccional.
Uretrocistografia Retrógrada e Miccional
Exame realizado através de sondagem vesical e introdução de contraste iodado avalia o formato da bexiga, suas paredes e resíduo pós-miccional, além de avaliar a presença de refluxo vésico ureteral.
Tratamentos
Tratamentos dietético comportamentais
Englobam mudança comportamental através da ingesta adequada de líquidos, agressivo tratamento da constipação, micções programadas, dupla micção e orientações na postura adotada à micção (treino de toalete). Eliminar alimentos irritantes vesicais como café, chocolate, refrigerantes, embutidos, etc.
Fisioterapia
Através de informações recebidas por meio de eletromiografia de superfície o paciente é orientado a reeducar a musculatura perineal através da conscientização da sua atividade muscular, do seu relaxamento, da força, do tempo de contração e da coordenação. Realizada por profissional qualificado pode incluir biofeedback, eletroestimulação treino de eliminações.
Medicamentoso
Vários tratamentos disponíveis buscando a melhora do esvaziamento vesical, controle miccional e contratilidade detrusora. Dispomos de drogas anticolinérgicas, alfa bloqueadores, toxina botulínica. Tratar a infecção urinária quando presente e, se preciso, fazer antibiótico profilaxia.
Cateterismo Intermitente Limpo (CIL)
É uma alternativa terapêutica que visa esvaziar a bexiga completamente prevenindo as infecções, eliminando o resíduo pós-micicional e diminuindo a pressão intravesical, evitando, assim a perda de função renal. Pode ser realizado pelos familiares ou pelo próprio paciente, todos devidamente treinados. O número de vezes que se realiza o cateterismo por dia varia conforme o paciente.
Tratamento Cirúrgico
Quando necessário, podemos lançar mão de tratamento cirúrgico para prevenir as infecções urinárias ou a perda de função renal. Derivações urinárias (vesicostomia, ureterostomias ou pielostomias). As ampliações vesicais com continência são feitas para manter a função renal protegida e a qualidade de vida do paciente.