A causa mais comum de obstrução uretral congênita em crianças é a válvula de uretra posterior (VUP), com incidência de 1:3000 a 1:8000 nascidos vivos. Faz parte das cakuts, e está associada, em 30% dos casos, com insuficiência renal.
A válvula de uretra causa obstrução do fluxo urinário provocando dilatação e alongamento da uretra prostática, espessamento da parede vesical, ureterohidronefrose bilateral, infecção urinária, oligoâmnio, insuficiência renal.
Com a presença da VUP ocorre a obstrução infravesical fetal com isso a bexiga necessita de alta pressão para esvaziamento. O ciclo normal de enchimento e de esvaziamento para desenvolvimento vesical e para aquisição de complacência não ocorre, o que resulta em hipertrofia e em hiperplasia do músculo detrusor, além de aumento numérico de terminações colinérgicas e de depósito de colágeno.
Nos casos de suspeita diagnóstica antenatal e de confirmação pós-natal de comprometimento bilateral do trato urinário superior, é obrigatório o exame de uretrocistografia miccional.
As manifestações mais frequentes clinicamente são infecção urinária de repetição, e sepse, anemia e icterícia, prejuízo do crescimento ou perda de peso, distúrbios metabólicos como desidratação, acidose e desequilíbrio hidroeletrolítico. Vômitos e diarreia podem estar relacionados a infecção e/ou insuficiência renal.
Mais de 50% das crianças com mais de 1 ano de idade que possuem VUP podem apresentar infecção do trato urinário, sendo o sintoma responsável pelo diagnóstico. Em crianças maiores os sintomas mais frequentes são quadro miccional com perdas urinárias, urgência, alterações do jato e gotejamento.
Exames e Tratamentos
Cistouretrografia miccional ainda é o exame padrão-ouro no diagnóstico de VUP. Neonatos com peso e funções normais e ausência de infecção é indicado o tratamento primário da VUP que abrange a utilização de eletrodos, de alças de ressecção, de facas ou laser. Para neonatos com uretras de pequeno diâmetro, infecção urinária ou septicemia, distúrbio hidroeletrolítico e insuficiência renal o tratamento indicado é a derivação urinária, sondagem uretral de demora, vesicostomia, pielerostomia ou ureterostomias bilateral. Em neonato com insuficiência renal grave, sepse ou impossibilidade de sondagem, pode ser indicada derivação cirúrgica de imediato.
Crianças mais velhas com diagnóstico tardio de VUP a escolha é o tratamento endoscópico sem descompressão preliminar por cateter, caso não haja descompensação funcional ou infecciosa.
Após o tratamento da válvula de uretra posterior temos que ter especial atenção na bexiga de válvula, uma vez que as alterações morfológicas e funcionais da bexiga produzidas pela válvula podem persistir para sempre alterando a funcionalidade da bexiga. Importante monitorar o jato urinário, volume urinado, controle miccional, infecções urinárias e a função renal. Podemos lançar mão de medicações que melhoram o funcionamento da bexiga, assim como fisioterapia e alguns casos cateterismo intermitente limpo ou sondagem vesical noturna.