Lesões de terra firme-forme são placas e pápulas ligeiramente elevadas, acastanhadas, hiperceratóticas de aspecto pontuado, bilaterais ou unilaterais, assintomáticas que acometem as regiões do pescoço, tronco, abdome e, membros inferiores de forma mais amena. Acomete pessoas com hábitos de higiene adequados, as lesões não são removidas por água e sabão.
O termo terra firma‐forme surgiu do latim e significa “terra sólida”, que também é conhecida como dermatose suja de Duncan. Lesões de terra firme-forme são alterações cutâneas benignas, de causa idiopática. Como geralmente são subdiagnosticadas, sua prevalência e incidência são desconhecidas. Os casos descritos na literatura evidenciam maior acometimento na infância e adolescência.
A patogênese é incerta, mas é atribuída à maturação retardada dos queratinócitos o que retém a melanina e acumula sebo, suor e micro-organismos.
Após suspeita de terra firma‐forme, o diagnóstico é confirmado pela remoção das lesões com a fricção da pele de forma firme e persistente, com algodão ou gaze embebida em álcool isopropílico 70%. O álcool promove a desnaturação das proteínas celulares, interferindo no metabolismo celular e diluindo as membranas lipoprotéicas, desfazendo assim as lesões. Os exames de sangue e biópsias de pele não são necessários. A avaliação histológica é desnecessária, mas, caso seja realizada é observado acantose, papilomatose e hiperceratose lamelar.
Os diagnósticos diferenciais se fazem com lesões hiperpigmentadas, inclusive papilomatose confluente e reticulada de Gougerot‐Carteaud, que apresentam semelhanças em algumas características. A diferenciação é feita pela remoção das lesões com álcool na dermatose terra firma‐forme, além de alguns achados clínicos. A dermatose terra firma‐forme também pode ser confundida com a acantose nigricante que normalmente está associada a distúrbios metabólicos e também com a dermatose neglecta, sendo está facilmente removida com água e sabão.
O tratamento das lesões de terra firme-forme se baseia na aplicação de álcool isopropílico 70%, porém as lesões podem recidivar. Após a aplicação de álcool na pele, esta deve ser lavada com água e sabão. É importante observar possíveis sintomas de intoxicação, como sonolência, letargia, depressão respiratória, irritação das mucosas e outros, principalmente nas crianças. Apesar da absorção do álcool através da pele intacta ser baixa, em caso de exposição prolongada pode-se haver aumento da absorção. Como tratamento, também pode ser usado o ácido salicílico 5%, uma vez ao dia, com boa resposta após duas semanas. Tanto a família como o paciente devem ser orientados sobre a limpeza da pele a ser realizada em casa, e também da aplicação de emolientes na prevenção de xerose (pele seca) por uso recorrente de álcool.
Reconhecer a dermatose terra firme-forme é importante para evitar a realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos incompatíveis, e também tranquilizar adolescentes e familiares, reduzindo o impacto social na vida dos portadores.